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Germano Timm

Germano Timm

Germano Timm

O legado de um professor

Germano Timm nasceu em 1872 em Joinville, Santa Catarina, em um contexto marcado pela forte presença de imigrantes europeus. Seus pais, Frederico João Timm e Dorotéia Fölsch, eram descendentes de imigrantes que se fixaram na Colônia Dona Francisca em 1856, vindos da região que viria a ser a Alemanha após a unificação em 1871.

De acordo com os registros de imigrantes, a família Timm e a família Fölsch embarcaram no navio Hamburg em Hamburgo em 20 de outubro de 1856, chegando à colônia em 16 de dezembro do mesmo ano.

Germano foi alfabetizado em casa pela mãe, em alemão. Mais tarde, frequentou a Escola do Padre Carlos Boegershausen, onde o ensino era ministrado em português. Esta escola, mantida inicialmente por iniciativa particular, não possuía uma sede fixa, funcionando em diversas residências até 1880, quando a Colônia Dona Francisca, com o auxílio da comunidade, estabeleceu a primeira escola pública de Joinville, a “Escola do Padre”.

Carreira Inicial

Após concluir seus estudos, Germano Timm trabalhou como sapateiro até 1895. Nesse ano, foi convidado pelo Padre Carlos para lecionar na escola. Germano assumiu a responsabilidade de ensinar o primeiro ano primário, destacando-se por seu método eficaz de alfabetização em português, que permitia aos alunos dominar a leitura e a escrita em um curto período de quatro a cinco meses .

Transformações na Educação e Ascensão na Carreira

Com a aposentadoria e posterior falecimento do Padre Carlos Boegershausen em 1906, a Escola do Padre passou para a administração municipal e sofreu reformas para se alinhar aos ideais da recém-proclamada República. Em 1907, o professor Orestes Guimarães, vindo de São Paulo, foi contratado para dirigir a escola, que foi rebatizada como Colégio Municipal de Joinville. Orestes Guimarães implementou reformas inspiradas no modelo educacional paulista, considerado exemplar na época .

Em 1910, após deixar Joinville, Orestes Guimarães foi nomeado Inspetor Geral da Instrução Pública de Santa Catarina, onde promoveu a criação de grupos escolares segundo os moldes paulistas. O Colégio Municipal de Joinville foi então transformado no Grupo Escolar Conselheiro Mafra, inaugurado em 15 de novembro de 1911 como o primeiro grupo escolar de Santa Catarina .

Contribuições como Educador

Germano Timm continuou sua trajetória como professor no Grupo Escolar Conselheiro Mafra até 1920, quando assumiu a função de diretor escolar. Durante sua gestão, o grupo escolar seguiu um rigoroso modelo disciplinar e organizacional, com classes separadas por gênero e um sistema de premiação e punição que incentivava a disciplina e o bom desempenho dos alunos e professores. Este modelo educacional visava não apenas a alfabetização, mas também a formação de cidadãos alinhados aos valores republicanos .

Legado e Homenagens

Germano Timm aposentou-se em janeiro de 1928, após uma longa e dedicada carreira de 33 anos ininterruptos na educação. Seu legado foi formalmente reconhecido em 26 de agosto de 1934, quando o Governo do Estado de Santa Catarina lançou a pedra fundamental do Grupo Escolar Professor Germano Timm, inaugurado em 30 de maio de 1935. Este grupo escolar foi o segundo de Joinville, destacando-se como uma importante instituição pública de ensino e simbolizando a contribuição de Germano Timm para a educação na região .

Uma história escrita na história

A trajetória de Germano Timm como educador é emblemática de um período de grandes transformações na educação brasileira, especialmente no contexto da imigração e da adaptação aos ideais republicanos. Sua dedicação à alfabetização e à formação cidadã de crianças de descendentes de imigrantes deixou um legado duradouro, honrado pela instituição que leva seu nome. Germano Timm é lembrado não apenas como um professor e diretor escolar, mas como um pioneiro na educação pública em Joinville, cuja influência perdura até os dias atuais.

Quando nasceu, o Brasil era um império governado por D. Pedro II. Aos 16 anos, Germano Timm viu a abolição da escravatura, e aos 17, testemunhou a proclamação da República e a ascensão dos primeiros presidentes militares e coronéis. Viu também a mudança do nome da capital catarinense. Ao longo de sua vida, presenciou os costumes da República Velha, o coronelismo, o voto de cabresto, diversas revoltas, a Guerra do Contestado, a expansão do território catarinense e o crescimento gradual de Joinville, a “grande pequena” cidade.

Durante esse período, Germano Timm já estava lecionando como alfabetizador no Grupo Escolar Conselheiro Mafra, onde também ensinava alemão. Posteriormente, foi nomeado diretor, cargo concedido pelo então governador do estado, Hercílio Luz, cujo nome adorna a famosa ponte na Ilha da Magia. Germano Timm viu muitos eventos marcantes: a Primeira Guerra Mundial, a Semana de Arte Moderna e a quebra da Bolsa de Nova York. Já casado, com filhos e aposentado, ele presenciou Getúlio Vargas tomar o poder e o início do Estado Novo, além de vivenciar, até um ano antes de sua morte, a tristeza da Segunda Guerra Mundial.

O período do Estado Novo, iniciado em 1937 com Getúlio Vargas, foi caracterizado por uma forte política nacionalista que valorizava os ideais republicanos e símbolos nacionais. Durante esse regime, houve uma intensa campanha de nacionalização que buscava integrar os descendentes de imigrantes ao ideário republicano, promovendo a língua portuguesa e a cultura brasileira, em detrimento das influências estrangeiras. Esse movimento também estava alinhado com os princípios da colonização, como o embranquecimento populacional pós-abolição da escravatura, que visava “branquear” a população brasileira através da imigração europeia.

A Primeira Guerra Mundial teve consequências significativas na região de Joinville, intensificando a desconfiança em relação aos imigrantes alemães e suas atividades culturais. Houve uma forte pressão para a nacionalização, com restrições ao uso do alemão e a outras manifestações culturais dos imigrantes. Esse contexto se intensificou ainda mais durante a Segunda Guerra Mundial, quando o Brasil, alinhado com os Aliados, viu-se pressionado a suprimir quaisquer sinais de simpatia para com as potências do Eixo. As escolas passaram a adotar um currículo fortemente nacionalista, e a repressão às tradições germânicas se intensificou, impactando diretamente as comunidades de imigrantes.

Entretanto, um dos momentos mais significativos de sua vida foi a criação, em 1935, de um grupo escolar que recebeu seu nome. Esta homenagem foi um reconhecimento por mais de 30 anos dedicados à educação, perpetuando seu legado e mantendo viva sua memória. A escola, que carrega seu nome, simboliza não apenas uma marca de gratidão, mas também uma continuidade de sua história, que virou História e que, a cada dia, renova-se e escreve novas páginas.

A vida de Germano Timm é uma testemunha viva dos esforços de construção de uma identidade nacional brasileira, imbuída dos valores republicanos e nacionalistas, em um contexto de grandes convulsões sociais e políticas, incluindo as duas guerras mundiais. Sua atuação como educador contribuiu significativamente para a integração e formação cidadã de descendentes de imigrantes, consolidando um modelo de educação pública que permanece influente até hoje.

 

A escola Germano Timm

A Escola Germano Timm foi fundada no dia 30 de maio de 1935. O processo de criação se constituiu pelo Decreto 548/34, publicado no Diário Oficial nº 15, de 15/03/1934, denominando o educandário com o nome Grupo Escolar Professor Germano Timm. Iniciou as atividades com 280 alunos. O nome dado à escola, Germano Timm, foi em homenagem a um antigo professor, ainda vivo à época, em reconhecimento a uma vida dedicada à educação, fato que talvez possa ser tomado como o primeiro indício do processo de significação histórica da antiga escola, cujo prédio é patrimônio tombado pelo estado de Santa Catarina. Em 1975,foram festejados os 40 anos de fundação da escola, com muito preparativos e embelezamento do prédio. Uma reportagem, publicada no Jornal A Notícia de 22 de maio, enaltecia o evento comemorativo, ressaltava os nomes dos ex-alunos que se tornaram homens importantes na vida pública da cidade, por suas atividades comerciais, industriais ou memoriais, alimentando o processo de significação histórica do edifício hoje tombado.  Através de Ato expedido pelo Conselho Estadual de Educação/SC, no ano 2000, em atendimento a Lei de Diretrizes e Bases 9.394/96, a unidade escolar passou a denominar-se Escola de Educação Básica Professor Germano Timm. Através da Comissão de Patrimônio Histórico, Artístico e Natural do Município de Joinville, em 03 de setembro de 2004, notificou o Tombamento do referido imóvel. Diante da precariedade do prédio foi construído um novo ao lado do antigo. Este foi inaugurado no dia 22 de setembro de 2006.

Leia o artigo que aborda a história da Escola Germano Timm